Já que ficamos de férias da universidade, teremos mais tempo pra nos dedicar ao blog e fazer indicações de livros e filmes. Agora mesmo estou com uma revista fantástica de jornalismo literário que meu orientador me emprestou… Os nossos posts de dicas de livros e filmes, a partir de hoje, seguirão um padrão: Sempre iremos indicar três livros ou três filmes que gostamos e que se enquadram na temática do blog.

Sem mais delongas,nosso post de hoje será sobre livro-reportagem.

A idéia do livro-reportagem nasceu junto com o Novo Jornalismo, já que o clássico “A Sangue Frio” de Truman Capote foi primeiramente publicado em capítulos na revista The New Torker, em 1965, e lançado em livro um ano depois. No livro “Livro-Reportagem” (Editora Contextro, 2006) Eduardo Belo  o afirma que:

A transição dos manuais de redação para o Novo Jornalismo, se deu a partir de uma conseqüência direta do interesse que havia na sociedade pelas histórias humanas, contadas de forma saborosa e muitas vezes em série de reportagens. Uma parte do público fazia questão de guardar aqueles retratos da época, e a idéia de transformá-los em livro acabou parecendo bastante natural.

A função do livro-reportagem, essencialmente, é colocar tudo aquilo que não cabe no jornal. No livro-reportagem, o jornalista não está preso a elementos jornalísticos como rotinas produtivas, constrangimentos organizacionais, limites de toques, deadline e etc.

O primeiro livro-reportagem que iremos citar foi escrito muito antes da denominação Novo Jornalismo, mas é considerado precursor no estilo no Brasil e exemplo na conciliação de jornalismo e literatura.

Estamos falando de “Os Sertões” de Euclides da Cunha, que parte do trabalho de Euclides como correspondente do jornal Estado de São Paulo  na  Guerra de Canudos (1896-1897). O livro foi lançado em 1902 e até hoje é tido como uma das maiores obras escritas por um brasileiro.

Em “Os Sertões”, Euclides da Cunha descreve a vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites governamentais.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. (…)

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O outro livro-reportagem que indicamos é mais recente, trata-se de “Abusado – O Dono do Morro dSanta marta ” de Caco Barcellos, de 2004. É minha gente, nem sempre Caco Barcellos foi esse fanfarrão que figura no Profissão Repórter nas noites de terça-feira, ele já escreveu coisas muito legais, como essa não-ficção, que retrata a ocupação do Comando Vermelho (CV)  na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro.

Barcellos narra a história a partir do traficante Juliano VP, e retrata a infância, adolescência, entrada e ascensão no tráfico de drogas na favela. O livro não é apenas um relato sobre a história do tráfico e ocupação do CV. Barcellos mostra  não apenas o lado criminoso de Juliano, mas ressalta seu refinado gosto literária, sua preocupação com a população da favela e seus contatos que iam dos mais violentos chefes do CV até importantes intelectuais cariocas.

Apesar do preço milionário, Juliano não podia ver um telefone público sem tentar fazer algum contato com o Brasil. Cheguei a acompanhar alguns telefonemas que duraram mais de uma hora, o que mostrava que ele continuava muito ligado à vida dos homens da Santa Marra e dos amigos de fora da favela. Numa dessas Iigações, ele falou com o compositor Marcelo Yuca, do grupo O Rappa, que já o havia incentivado a deixar o tráfico. No telefone, Juliano parecia arrependido de ter fugido sem proporcionar a mesma chance de fuga aos homens que ficaram na Santa Marta.

 Isso não é certo, Yuca Eu tô na boa, mas e o meu pessoal, os meus guerreiros, o Pardal, o Rivaldo, o 33? Eles também têm o direito de comer num bom restaurante de Buenos Aires. Eles também querem a paz que eu quero tê. Eu tenho que achá uma solução para essa garotada, cara. Eu errei, Yuca, eu errei!

No ano de lançamento, o livro ganhou o Prêmio Jabuti na categoria reportagem e biografia.

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Por fim, e não menos importante, o último livro desse post, é o livro-reportagem que estou analisando pro meu TCC. Logo, todos sabem que tenho um amor incondicional por ele. O livro é “Chico Mendes- Crime e Castigo” de Zuenir Ventura.

“A mais premiada reportagem sobre o herói dos povos da floresta”. É essa frase que vem estampada na capa do livro, que é uma série de reportagens feitas por Ventura sobre a morte de Chico Mendes, seringalista acreano, referência de luta em favor da proteção da floresta amazônica.

Com mais de 30 anos de experiência com o jornalismo, Zuenir Ventura foi enviado pelo Jornal do Brasli, em 1989,  ao Acre um mês após a morte de Chico. O jornalista que da “Amazônia só conhecia o mapa” fez a primeira série de reportagem “O Acre de de Chico Mendes”, que no mesmo ano ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo e Vladmir Herzog de reportagem.

Um ano após a primeira série, em 1990, Ventura voltou ao Acre para cobrir o julgamento dos assassinos do seringueiro. E quinze anos depois, em 203, retorna novamente ao estamo amazônico para relatar as heranças deixadas por Chico Mendes e as mudanças ocorridas no Acre.

Além de mostrar um Chico Mendes que vá muito além do seringalista, o livro contextualiza o Acre, estado que sempre foi relegado pelo resto do país, e o mais importante, sem aquele estereótipo e preconceito com o qual a grande mídia trata a Região Norte.

Ilzamar é daquelas pessoas a quem as fotos em geral fazem injustiça. Alguma coisa nela dava a absurda ilusão de que ali estava o resultado de três reinos: animal, vegetal e mineral. A pele é provavelmente de bronze. O corpo tem a concisão de uma seringueira e a carne, a carne deve ter a consistência de borracha. Os cabelos eram negros como José de Alencar, por não conhecer Ilzamar, achava que eram os de Iracema.

 

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Nota  —  Publicado: junho 10, 2019 em Jornalistas, Livros, Reportagem
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Bem, as férias estão chegando e a equipe do Colherada Literária preparou uma lista de filmes que levam para a telinha um pouco do Novo Jornalismo, em especial do Jornalismo Gonzo, que é uma ramificação do jornalismo literário.

O primeiro filme que indicamos é “Capote”, que é inspirado no livro “A Sangue Frio”, que, como já ressaltamos em outras postagens, é o livro-reportagem considerado como precursor do Novo Jornalismo. O filme retrata não a ótica do assassinato  de uma família de Holcomb, cidade do estado americano do Kansas, mas a partir do jornalista Truman Capote, de como ele fez a apuração dos fatos e de como conquista a confiança das fontes, inclusive a confiaça dos assassinos  Perry Smith  e Dick Hickock.  Com essa reportagem, Capote conseguiu mostrar ao mundo que histórias de não-ficção podem ser tão interessantes quanto as de ficção. Vale a pena conferir!

Título original: (Capote)

Lançamento: 2005 (EUA)

Direção: Bennett Miller

Atores: Philip Seymour Hoffman (Truman Capote),  Clifton Collins Jr. (Perry Smith) e Mark Pellegrino (Dick Hickock)

Duração: 98 min

Gênero: Drama

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No auge das novas liberdade editoriais advindas com o Novo Jornalismo surge, por volta de 1966, na imprensa norte-americana, uma interpretação extrema dos princípios dessa dessa liberadade, o Jornalismo Gonzo.

Hunter S. Thompson, um jornalisya free-lancer do Kentucky, foi o pioneiro da modalidade desnominada Gonzo Journalism. Felipe Pena no livro Jornalismo Literário  descreve que o jornalismo gonzo escancara que é impossível a objetividade e isenção do jornalista.

Nesse tipo de jornalismo, Thompson propõe a transposição da barreira essencial que separa o jornalismo da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero inventado por Thompson se baseia na desobediência de padrões e no desrespeito de normas estabelecidas, além do enfoque em quatro grandes temas: sexo, drogas, esporte e política.

Seguindo essa linha, temos o filme “O Medo e Delírio”, que é baseado no livro “Fear and Lothing in Las Vegas” de Hunter Thompson. O filme mostra viagem a Las Vegas de Thompson, interpretado por Johnny Depp, e seu advogado Oscar Acosta, na pele de Benício Del Toro, para cobrir oMint 400 – uma corrida de motos no deserto de Nevada. Na bagagem, muita maconha, cocaína, éter, bebidas e todo tipo de estimulante, colecionados em uma mala. O efeito que essas drogas causam é o enfoque do filme.

Título original: (Fear and Loathing in Las Vegas)

Lançamento: 1998 (EUA)

Direção: Terry Gilliam

Atores Principais: Johnny Depp (Hunter Thompson), Benicio Del Toro (Oscar Acosta – Dr. Gonzo),

Duração: 118 min

Gênero: Drama

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Outro filme que segue essa linha do Jornalismo Gonzo é “A luz é para todos” que é considerado pioneiro na abordagem da discriminação racial nas telas do cinema. O filme foi lançado após o holocausto, e é um discurso contra o anti-semitismo exercido pela sociedade americana.

O filme, baseado no de Laura Z. Hobson, conta como o jornalista Phil Green, interpretado por Gregory Peck, se fingiu de judeu para escrever uma reportagem contra o anti-semitismo nos Estados Unidos. Green e seu filho sofrem com a discriminação e essa experiência permite ao jornalista fazer a matéria sob um ângulo completamente diferente, já que sente na pele o que o preconceito.  O filme recebeu cinco indicações ao Oscar de 1948 e foi premiado em três categorias: direção (Elia Kazan), melhor atriz (Dorothy McGuire) e melhor ator coadjuvante (Celest Holm).


Título original:
 (Gentleman’s Agreement)

Lançamento: 1947 (EUA)

Direção: Elia Kazan

Atores Principais: Gregory Peck (Phil Green), Dorothy McGuire (Kathy), John Garfield (Dave Goldman)

Duração: 118 min

Gênero: Drama

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Seguindo nossa série de entrevistas, hoje iremos portas a entrevista que fizemos ano passado com Zuenir Ventura. Na ocasião o escritor e jornalista veio à Belém para a Feira Pan Amazônica do Livro, onde participou de um encontro literário com o também escritor e jornalista Luís Fernando Veríssimo.

Zuenir Ventura é o profissional que faz com que o jornalismo se encha de orgulho e ele ainda diz que não gosta de escrever. Com mais de meio século dedicado à profissão, Ventura é o exemplo que todos nós devíamos seguir, não apenas na questão da apuração e contextualização do texto, que em muito se aproxima da estética do Novo Jornalismo, mas da ética e respeito com o trabalho.

Boa parte da carreira de Zuenir é ralatada no livro “Minha História dos Outros”, de 2005. Nesse livro, Zuenir narra o bastidores de grandes acontecimentos, como a morte de Vladmir Herzog, a cobertura do assassinato de Chico Mendes e a amizade com o cineasta Glauber Rocha.

Falando em livros, como escritor Zuenir também se saiu muito bem. Quem nunca ouviu falar em “1968 – O Ano que não terminou”? O livro que, até hoje, é referência para o estudo e compreensão da ditadura. Em suas palestras Zuenir sempre diz que não esperava o sucesso desse livro, que possui mais de 50 edições e que o fez só pra agradar sua mulher. Contudo, Zuenir acabou agradando várias gerações e ainda agrada até hoje.

Além de “1968 – O Ano que não terminou”, Zuenir é autor de Cidade Partida, que é o resultado de 9 meses que o jornalista passou na favela carioca de Vigário Geral, com o livro Zuenir ganhou o prêmio Jaburi de Literatura; Inveja o Mal Secreto (1998), onde Zuenir fala do pecado mais obscuro dos 7 e entrelaça histórias de inveja e invejosos com um momento difícil: a descoberta e cura de um câncer na bexiga; Chico Mendes Crime e Castigo (2003), que é uma compilação de reportagens sobre a morte de Chico Mendes para o Jornal do Brasil. A primeira série de reportagem “O Acre de Chico Mendes”, de 1989, foi premiada com o Prêmio Esso de Jornalismo e Vladmir Herzog de reportagem. Após essa primeira série, Zuenir voltou ao Acre em 1990 para o julgamento dos acusados pela morte de Chico e quinze anos depois, em 2003, para fechar o livro e mostrar ao Brasil o legado deixado por Chico Mendes no Acre; Minha História dos Outros (2005) traz a experiência de Zuenir em primeira pessoa e narra as peculiaridades das principais reportagens; ” 1968- O que fizemos de nós” faz um balanço após os 20 anos de 1968 e resgata as heranças deixadas por essa década e a visão de personalidades da época de 1960 sobre tal; Conversa sobre o Tempo (2010) é um livro em formato de Big Brotther. Durente três dias Zuenir Ventura conversou com Luís Fernando Veríssimo sob a mediação de Arthur Dapieve sobre assuntos como amos, política, morte e família. O diálogo é transcrito no livro.

Nunca imaginei que entrevistaria Zuenir Ventura, aquele jornalista que eu queria ser quando crescer. Mas isso aconteceu, e duas vezes. A primeira eu era estagiária da TV Unama e estávamos fazendo a cobertura da Feira Pan Amazônica do livro de 2009, onde o Zuenir era uma das atrações. Quando vi Zuenir fiquei tão nervosa e ele foi tão gentil e simpático como um pai que encoraja um filho, e no final ainda disse que fui bem, mas acho que eu fui uma foca bem atrapalhada, mesmo porque nunca gostei muito de mostrar minha figura na TV. A segunda, que aconteceu graças a cara de pau da Camila Barros e vocês irão saber no próximo post contada por ela mesmo, foi ano passado e bem mais tranquila. Estávamos eu (Lorena), Camila e Ana Carolina Eulálio, no saguão do Hotel Hilton sob o olhar de curiosos que deviam pensar “O que esse velhinho faz com essas três meninas?”. Foram mais de duas horas de papo, e Zuenir antes de ser entrevistado nos entrevistou. A conversa só acabou quando a mulher dele, Mary, disse que ele deveria se arrumar para ir a um show. Com certeza, nós nunca iremos esquecer dessa tarde.

Hoje, o Colherada Literária irá disponibilizar a primeira parte dessa entrevista. Logo mais colocaremos a segunda parte e as impressões de Camila Barros sobre o nosso encontro com Zuenir. As fotos foram gentilmente feitas por nossa amiga, colaboradora  Ana Carolina Eulálio.

Colherada Literária: Pra onde você escreve no momento?

Zuenir Ventura: Pro globo só. Duas vezes por semana: uma crônica quarta e outra sábado.

C.L: E ainda é professor?

Z.V: Não. Eu gosto muito de dar aula. Mas, acho que substituo essa atividade viajando fazendo palestras. Eu viajo muito, e é uma forma de suprir essa coisa do magistério que eu sempre gostei muito.

C.L: Quais as disciplinas você ministrava?

Z.V: Eu dava técnica de redação, que ensinava a redigir. Quando eu dei aula na faculdade, a gente dava muita teoria, como Focoalt, Lakan, e escrever, na verdade, para o jornal, não era uma cadeira, uma disciplina. Eu trabalhei muito com técnica de redação, ensinar realmente a escrever. Coisa muito simples: mandava escrever, reescrever, pegava uma notícia no jornal e mandava resumir em dez linhas. Durante quarenta anos eu lecionei. Dei também jornalismo comparado… É boa a escola de jornalismo aqui?

C.L: Você tem algum ritual para escrever seus textos?

Z.V: Eu sou muito desorganizado e isso me angustiava muito. Mas depois vi que é um pouco da natureza da gente. Então, eu não tenho uma disciplina muito grande, um ritual. Ah! Na verdade, eu tenho um ritual, que é acordar cedo todo dia e andar pelo calçadão de Ipanema.

Aí leio os jornais e começo a escrever, começo a trabalhar o dia inteiro. Eu tenho um escritório muito gostoso, onde passo a maior parte do tempo ali. Às vezes leio o jornal antes de andar. Às vezes ando às 6 da manhã, às 10 da manhã… A minha ordem é a desordem, e dá certo, e a essa altura não vou mudar. Adoro andar, faço isso todo dia.

C.L: E como jornalista, se fazer compreender é realmente o mais difícil?

Z.V: “Escrever é cortar palavras” – Eu falo muito isso, que é uma frase que eu não sei se é do Graciliano Ramos ou do Carlos Drumonnd de Andrade. Eu acho que é muito difícil você ser fácil. Isso custa um esforço. Eu acho que é uma busca e eu ganho pra ter trabalho e não pra dar trabalho ao leitor. Acho que a gente tem que ter todo um esforço de se fazer entender. Essa é uma das tarefas do jornalista: ser claro.

É uma das diferenças do jornalista para o romancista, por exemplo. O romancista não precisa ser, digamos, necessariamente claro. Ele pode ter mistérios, enigmas, um texto que você não entenda direito. Agora, o jornalista não. Ele tem que ser claro, objetivo, direto… E isso tem um custo. Isso aí é uma busca. Tem gente que nasce com o dom de escrever fácil e rápido. Eu acho que para ser bem entendido, escrever fácil, você tem que ter trabalho.

C.L: E enquanto os meios de comunicação? Você sempre trabalhou só no impresso?

Z.V: Olha, engraçado! Quase todos foram no impresso. Televisão, eu sou péssimo. Não gosto de televisão. Já fiz algumas incursões no cinema, como roteirista, entrevistador… Participei de alguns documentários, o ultimo deles foi sobre Paulinho da Viola, “O tempo e hoje”. Mas fiquei quase sempre no impresso, gosto muito do impresso. Tenho maior respeito pelo rádio. Acho o rádio uma mídia muito forte no Brasil. A unica que está sempre presente e você pode fazer qualquer coisa enquanto está ouvindo rádio. Os outros veículos, como a televisão, exigem uma atenção especial.

A dispersão é muito fácil. Você está ouvindo rádio e outra coisa. Mas acho que depende da vocação, do gosto de cada um. As pessoas esnobam um pouco o rádio. Geralmente querem a televisão ou o impresso e não se lembram que o rádio é um veículo fantástico.

C.L: E Assessoria de Imprensa? Qual sua opinião sobre esse segmento?

Z.V: De maneira geral é a assessoria que segura a barra das pessoas. Mas, a melhor coisa do jornalismo é a reportagem. Eu adoro a reportagem. Acho um grande barato. No meu tempo de redação a gente desprezava a assessoria. Depois no Rio, alguns bons jornalistas que eu conheço, como ex-alunos meus, passaram a ter assessoria, trabalhar em assessoria e fazem um excelente trabalho. Mas a gente tende a esnobar um pouco a assessoria.

C.L: Há quem diga que jornalistas, atualmente, são caçadores de aspas. De que forma a gente pode fugir disso? E, nesse com texto, como você ver o uso da internet?

Z.V: O Google é uma ferramenta muito importante pra gente. Mas, para começo de conversa, ou seja, pra começar uma matéria e não pra terminar. Cito sempre o caso de uma amiga minha atriz que fala ‘o repórter chega hoje comigo com a matéria pronta, vai no google pega toda minha história, vem pega uma aspa e aí ta feita a matéria’. Não é pra isso.

Então tem uns vícios que a tecnologia trouxe: por exemplo, muito repórter chega hoje pra mim, estudante, quer fazer entrevista por e-mail e aí eu descobri, através de um colega meu, que disse “sabe por quê? Pelo seguinte. Pelo e-mail ele não tem trabalho nenhum. Você responde por e-mail e a entrevista ta pronta. E eu comecei a falar “não. Por e-mail, não dou, não! Tem que ser por telefone porque grava e dá um certo trabalho.

As novas tecnologia foram feitas pra ajudar, e não pra substituir. Nada como você olhar no olho, como a gente ta olhando aqui. Às vezes, um gesto revela mais do que uma resposta. Uma indecisão, uma coisa do entrevistado, às vezes revela mais do que aquilo que ele está respondendo. Então, é essa a minha advertência em relação à tecnologia da comunicação. Gravador, internet… Tudo isso são ferramentas de ajuda, mas não são pra substituir o repórter.

C.L: E qual sua relação com a internet? Você entra na internet frequentemente?

Z.V: Eu entro na internet, claro que entro. Eu não me dou muito bem com a internet. Até já fui morto em um boato de internet… Claro que eu acho que a internet veio pra ficar, mas eu não sou deslumbrado pela internet, não tenho twitter, por exemplo, mas considero importante a internet. Toda a revolução tecnológica tem perdas e danos e com a internet não é diferente. O problema da internet é que as pessoas acreditam em tudo no que lêem, e é preciso ter cuidado com isso.

  • A Sangue Frio Truman Capote

A Sangue Frio é o livro considerado como precursor do jornalismo literário. Foi a partir de sua publicação, em 1966, que o jornalismo aliado à literatura foi denominado de New Jornalism – o Novo Jornalismo.

O livro, considerado um “romance de não ficção” foi publicado inicalmente em quatro capítulos, em 1965, na revista The New Yorker, e conta o assassinato de uma família na cidade de Holcomb, interior do Estado do Kansar, Estados Unidos. Capote descreve desde a idéia inicial do crime até a execução dos assassinos. Em 1966, os fascículos publicados na The New Yorker foram transformados no livro-reportagem que é referencia, até hoje, no pionerismo do jornalismo literário.

O jornalista Tom Wolfe (2005), considerado um dos fundadores do Novo Jornalismo, analisa no livro “Radical Chic e o Novo Jornalismo” (2005) que a publicação de “A Sangue Frio” foi um

 baque terrível para todos que esperavam que o maldito Novo Jornalismo ou Parajornalismo se esgotasse como uma moda. Afinal, ali estava não um jornalista obscuro, nem algum escritor freelance, mas um romancista de longa data… cuja carreira estava meio parada… e, de repente, com aquela virada para a maldita forma de jornalismo, não só ressuscitava sua reputação, mas a elevava mais alto que nunca antes… e, em troca, tornava-se uma celebridade da mais inacreditável magnitude.  Pessoas de todo tipo leram A sangue frio, pessoas de todos os níveis de gosto (…). O próprio Capote não chamava seu livro de jornalismo; longe disso; dizia que tinha inventado um novo gênero literário “o romance de não ficção”. (WOLFE, 2005, p.45-46)

  • Hiroshima – John Hersey


O livro Hiroshima de John Hersey é considerado por muitos a “maior reportagem do século XX”. Um ano após a explosão da bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshimam, em 1945, Hersey faz um retrato de seis sobreviventes da explosão. Quarenta anos mais tarde, o repórter reencontra seus entrevistados para escrever o último capítulo das pessoas atingidas pela bomba.


  • Radical Chique e Novo Jornalismo – Tom Wolf


Radical Chique e o Novo Jornalismo
 é uma compilação de artigos e reportagens publicadas por  Tom Wolfe nas décadas de 60 e 70. Assim como Truman Capote, Tom Wolf também é um dos precursores do jornalismo literários.
Na primeira parte, Wolfe narra as origens e o impacto da chegada de sua geração às redações americanas, que passou a empregar técnicas de ficção para fazer reportagens mais completas, intensas e envolventes. Em seguida, três textos clássicos desse novo gênero, rigoroso como o melhor jornalismo e saboroso como a melhor literatura: “O último herói americano”, sobre corridas de stock-car; “A Garota do Ano”, um perfil da socialite “descolada” Baby Jane Holzer, símbolo de um tempo em que já não era o poder que criava o estilo, mas o contrário; e “Radical Chique”, que o narra o famoso encontro entre a elite endinheirada de Nova York e os ativistas negros Black Panthers.
  • Repórteres 


“Repórteres, meu senhor, são pessoas que perguntam.”  – É com essa frase que Audálio Dantas começa a apresentação de Repórteres livro que reúne a experiência e história inuxitadas dos principais jornalistas brasileiros que trabalham com a estética do Jornalismo Literário. Entre eles, Caco Barcelos, José Hamilton Ribeiro, Joel Silveira, Carlos Wagner, Ricardo Kotscho e, representando a Amazônia, Lúcio Flávio Pinto.
  • Jornalismo Literário – Felipe Pena


Livro fundamental para estudantes de Comunicação e interessados em saber o que é Novo Jornalismo. Felipe Pena explica em uma linguagem simples o que é uma reportagem e o jornalismo literário. Ressalta a contextualização, apuração detalhada, romper as barreiras do lead e da pirâmide invertida como características desse gênero. Pena ainda destaca alguns subgêneros em que se pode exercer o jornalismo literário, como crítica literária, biografia, romance-reportagem, e discute o limite entre ficção e realidade.

No ano passado eu (Lorena) e a Camila Barros iniciamos um projeto de pré-projeto de TCC, requisito da disciplina Técnica de Pesquisa em Comunicação, sobre análise das reportagens de Zuenir Ventura sobre a morte de Chico Mendes.

O Prof. Dr. Relivaldo Oliveira ordenou que fizéssemos uma entrevista sobre o tema. Aí começou nosso drama. [trilha sonora triste] A indicação do Prof. Relivaldo era o também professor Marcelo Vieira (que foi nosso professor de Jornalismo Impresso no terceiro e quarto semestre), mas o professor Marcelo estava no Rio de Janeiro… Mandei um e-mail e ele disse que responderia as perguntas, mas os dias se passaram e só o que a gente ouvia (ou não lia) era CRI CRI CRI. Nada das respostas. [trilha sonora triste de novo]

Na véspera da entrega da entrevista, pedimos uma indicação para o Professor Thiago Barros, por ele ser editor de jornal e ministrar a disciplina Jornalismo Especializado, achamos que ele poderia nos ajudar ou até mesmo responder as perguntas pra salvar nossa pele.

Mas, o Prof. Thiago  nos deu o telefone de  João Carlos Pereira. Eram quase 22h, mas mesmo assim o desespero fez a Camila ligar para o ilustre desconhecido [ainda bem que o número dele era TIM]. E nossa vida mudou [trilha sonora empolgante], João Carlos foi muito gentil e respondeu nossas perguntas prontamente, o que nos ajudou a passar na disciplina que estávamos mais do que penduradas. [agora toca We’re The Champions]

Segue a entrevista e o perfil do nosso entrevistado, onde ele fala muita coisa legal sobre o modo de ser fazer jornalismo e reportagem:

  

João Carlos Pereira é jornalista do Grupo     Liberal, professor da Universidade da  Amazônia (UNAMA), escritor, cronista e  coordenador da Editora da Unama.    Membro da Academia Paraense de Letras  (APL), ocupa a cadeira de número 39, que  tem como patrono Vilhena Alves (sócio-  fundador da APL em 1900). João Carlos também faz parte do Conselho Estadual de Cultura.

1. O senhor acredita que, como afirma Nilson Lage, “o futuro do jornal parece estar mais ligado à reportagem”?

Sim. A internet vai ser o canal da notícia, junto coma televisão e com o rádio. O meio impresso será o caminho para o debateem profundidade. Lamentoconstatar que as pessoas estejam sendo forçadas a dizer tudo (e nada) em 140 toques.

2. Quais os caminhos para uma boa reportagem? O que o repórter deve considerar no seu processo de apuração?

O jornalista precisa saber exatamente qual o foco da reportagem, quanto mais certo estiver de seu objetivo, maiores serão suas chances de fazer um bom trabalho. Para isso, é preciso ter informações sobre o que vai escrever, ouvir todos os lados envolvidos na questão e, é claro, ter fontes confiáveis.

3. Sabemos que o jornalismo literário revela um universo que geralmente não se mostra nas linhas das notícias do dia-a-dia, e apresenta um ponto de vista pessoal de quem escreve. Como o jornalista deve proceder para não fugir da realidade?

Vamos começar fazendo uma diferença fundamental, sem a qual não se pode avançar nesta prosa: Jornalismo é jornalismo. Literatura é literatura. O jornalista, quando faz literatura, produz ficção. Essa é a primeira condição do texto literário. Quando escreve matérias, faz jornalismo. O fato de escrever com estilo não quer dizer que esteja produzindo literatura. Escrever bem, aliás, é o mínimo que se espera de um jornalista.

Esse novo conceito tem a ver com a subjetividade, que vai atravessar a notícia. O autor usa (alguma vez deixou de usar?), elementos de sua subjetividade para, a partir de um fato, produzir uma matéria.

O risco desse tipo de trabalho é bater à porta da crônica. Mas quem vive sem riscos? O resultado pode ser bom. E às vezes é. Unir jornalismo (com todas as exigências da Redação – tamanho do texto, prazos e etc.) com a liberdade da criação produz ótimos resultados.

4. A modalidade jornalística “hard news”, cada vez mais atrai jornalistas e leitores.  Por que acontece o inverso com o Jornalismo Literário?

Acredito que o jornalismo literário sai do “frio” do texto. O fato e só o fato. Isso é o lead. Isso cansa o leitor. O jornalismo literário talvez não seja o caminho de muitos jornalistas, porque há profissionais da área que estão mais preocupados coma hora de sair da Redação do que com o trabalho. Jornalismo literário é investigação, é profundidade, é trabalho de pesquisa. Tudo isso deve estar aliado a um bom texto. Se não estiver, como se diz popularmente, “já era”.

5. Por carregar traços interpretativos, podemos dizer que o Novo Jornalismo, de certa forma, se opõe aos princípios básicos do jornalismo tradicional, como precisão e objetividade?

O chamado Novo jornalismo tem como base – e não poderia ser diferente – o jornalismo tradicional. Jornalismo sempre foi jornalismo. O princípio básico do jornalismo, seja ele novo, adolescente, maduro ou velho é um só: a informação, a notícia. A “intromissão” do jornalista sempre existiu e sempre existirá. Quem sabe trabalhar a palavra, só conseguirá imparcialidade e objetividade, ao escrever a data em que o jornal circula. Até os números da bolsa podem ser “subjetivos”.

Colocar emoção, a alma, digamos, no texto analítico, é fundamental. Não sei fazer diferente. Nunca soube. Claro que, no Jornal, até anúncio fúnebre a gente tem que saber redigir. Mas que bom, quando o chefe passa uma pauta trabalhosa, com possibilidade de pesquisar! Tipo matéria grande, para uma edição de domingo. Para isso, porém, é preciso que o jornalista tenha apetite profissional. Quem se satisfaz (e se cansa), quando prepara um release de 15 linhas, jamais poderá fazer Jornalismo Literário.

6. Em que medida a internet pode ajudar ou prejudicar uma reportagem?

Basta uma informação manipulada, na Wikipédia, por exemplo, para fazer desandar uma informação.

Temos sempre que considerar a rapidez com que tudo acontece no universo da internet. Também não podemos esquecer que os arquivos, na net, muitas vezes, se abrem com imensa facilidade.

7. Quais os jornalistas brasileiros que o senhor considera referência em Jornalismo Literário?

Penso em alguns nomes: o Laurentino Gomes, com que fiz uma bela amizade, no tempo em que ele morou aqui; o Zuenir Ventura; o Marcos Sá Correa, gente que leva a sério a investigação. Mais recuado no tempo, convém lembrar o nome do Euclides da Cunha.

8. Em 1989, o jornalista Zuenir Ventura escreveu uma série de reportagens sobre a repercussão da morte do seringueiro Chico Mendes, que lhe rendeu o Prêmio ESSO de jornalismo e Vladimir Herzog de reportagem. Por que, em sua maioria, jornalistas do eixo Sul e Sudeste escrevem sobre a Amazônia? O que falta aos jornalistas dessa região?

Tanta coisa… Vou numerar dez pontos:

  1. Falta clareza do que significa ser jornalista. Por aqui, muita gente ainda pensa que ser jornalista é ser assessor de imprensa. falta esquecer um pouco a prática dos “releases”;
  2. Falta apetite pela notícia;
  3. Falta vivência de redação;
  4. Falta humildade. Aqui, mal o aluno entra no curso de comunicação, já se acha jornalista;
  5. Falta convívio com quem começou bem antes e sabe porque viveu;
  6. Falta, nas Redações, gente como Ana Diniz, Claudio Sá Leal, Chembra, Mario Couto, Acyr Castro, Roberto Jares, Rômulo Maiorana, Regina Alves, Helena Cardoso, Ronald Junqueiro, Edwaldo Martins, Eládio Malato. Todos eles tinham muito o que ensinar a quem queria aprender. E ensinavam com prazer;
  7. Falta leitura ao jornalista que começa e, portanto, falta texto;
  8. Falta ao jornalista daqui desejar conhecer a Amazônia. Em geral, todo mundo quer ir embora para o Rio e SP, onda há melhores salários;
  9. Falta saber perguntar.

10. Como o senhor avalia o fato do jornalista Zuenir Ventura ter interferido no julgamento dos acusados da morte de Chico Mendes, ao colocar sob sua responsabilidade a principal testemunha do crime?

Ele agiu como cidadão comprometido com a verdade. Porá sorte do Brasil, Zuenir é jornalista.

11. O senhor conhece o livro “Chico Mendes – Crime e Castigo” do jornalista Zuenir Ventura? Se sim, como o senhor o analisa?

Não conheço, mas deve ser muito bom. Zuenir é exemplo para todos nós.

Entre as várias opções de temas, escolhemos o jornalismo literário pois consideramos que esse gênero é bastante desvalorizado na pauta dos meios de cmunicação de massa.

Diante da tendência sensacionalista dos meios de comunicação que desvaloriza a apuração detalhada e a reportagem e do público que se contenta com a produção jornalística superficial, consideramos o jornalismo literário como uma forma de fugir do efêmero, já que este tipo de jornalismo trabalha com investigação, a apuração mais profunda e a pesquisa. Diferente da notícia, que expõe um fato ou uma sequência de fatos, o objetivo da reportagem é a permanência. Assim, trabalhar com a análise de reportagens é valorizar o jornalismo literário, que praticamente foi extinto da imprensa diária.

 E, se, for considerada a produção e o incentivo ao jornalismo literário na Amazônia, aí que deparamos com o descaso tanto na produção local, quanto no modo que a região é retratada. A região geralmente é pautada negativamente pela mídia nacional, que só se interessa por temas como conflitos agrários, desmatamento e biopirataria. Só grandes escândalos chamam a atenção da mídia nacional para a região.

O jornalismo literário surgiu em 1920, nos Estados Unidos, porém, só conseguiu notoriedade na década de 1960, quando foi denominado de New Jornalism, o Novo Jornalismo. Foi a publicação do livro “A Sangue Frio”, de Truman Capote que impulsionou a criação desse novo gênero jornalístico. O livro, considerado um “romance de não ficção” publicado em quatro capítulos, em 1965, na revista The New Yorker, conta o assassinato de uma família na cidade de Holcomb, interior do Estado do Kansar, Estados Unidos. Capote descreve desde a idéia inicial do crime até a execução dos assassinos. Em 1966, os fascículos publicados na The New Yorker foram transformados no livro-reportagem que é referencia, até hoje, no pionerismo do jornalismo literário.

Contudo, as reportagens feitas por Euclides da Cunha para o “Estadão” sobre a Guerra de Canudos (1893 a1897), que culminaram no livro “Os Sertões”, são consideradas precursoras do jornalismo literário no Brasil.

O texto jornalístico é por natureza coletivo e social, e possui características e modos de construção bem definidos. O objetivo do texto jornalístico, antes de tudo, é ser informativo, e é essa função de informar, ou seja, tornar acessíveis informações de dentro da sociedade que o difere dos textos literários, acadêmicos, publicitários e etc. E o jornalismo lierário não ignora essas características do jornalismo clássico. 

Assim, sabendo da função e a característica principal do jornalismo de garantir veracidade do fato narrado e não admitir a transgressão da fronteira entre a realidade e a ficção, nos voltamos para o jornalismo literário, que considera que a estrutura textual pode se ancorar ao estilo da literatura com o objetivo de humanizar o texto e permitir a leitura mais agradável.